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Mostrando postagens com o rótulo Luto pelo pai

Euforia no velório

 Euforia no velório Sim, eu fiquei eufórica no velório e enterro do meu pai, há sete meses. Que coisa esquisita. Ele faleceu às três da manhã e meu irmão que o acompanhava no hospital, esperou amanhecer para nos contar. Ainda me emociono ao lembrar dessa gentileza. Eram seis da manhã quando eu, minha mãe e meu marido soubemos então daquela notícia tão triste. Alguns abraços, lágrimas e logo começou o dia estranho . Não havia dor, desespero nem indignação. Só calma e um vazio anestésico. Na minha fé isso é o famoso colo de Deus. Essa mesma fé que também faz enxergar os livramentos . Ele não merecia sofrer e não sofreu. Logo a mente já estava também presa aos afazares que esse momento pedia: organizar velório, enterro , roupa que seria usada pelo meu pai que se foi. Tinha também os avisos, as pessoas que viriam de longe, horários, lanches e principalmente checar as condições de minha mãe o tempo todo. Eu jurava que ela não aguentaria. E tudo seguiu como em flutuação, dentro de um sonh

Coisas criam memórias - blusa do meu pai

  Coisas criam memórias - blusa do meu pai Após mais um dia frustrante vendo meu filho se machucar sucessivas vezes involuntariamente e minhas cólicas com pernas pesadas sem trégua, tive que sair para comprar algumas coisas, ao anoitecer. Frio de outono, abro o armário e essa blusa está lá no cantinho, dobrada como a deixei há uns cinco meses. Ela era do meu pai. Quis vesti-la imediatamente. Quis o calor de sua linha para aquecer. Quis o conforto de seu tamanho grande. Quis o toque do tecido que sentia ao tocar meu pai enquanto a usava. Quis sentir seu cheiro adocicado por diabetes (sim, não lavei). Então a vesti. Caramba! Tudo que queria, aconteceu em segundos. Veio forte porque sinceramente não lembrei muito dele nos últimos dias. E tanto faz: lembrar ou esquecer é ruim. Vesti e a saudade me vestiu também. Talvez mais lembranças do final do que saudade. Dirigindo, engarrafamento, belas músicas antigas no rádio e já não enxergava direito pelos olhos marejados . Tantas memórias! Jan

Você se foi, mas ficou em tudo

Você se foi, mas ficou em tudo Você se foi, pai . E mais do que antes, te vejo em tudo. Já me fazia bem perceber de onde vim. Olhar pra mim e ver você. Agora mais ainda. Você está na importância do amor simples, silencioso. Sem dizer eu te amo . Porque o seu amor era assim. Amou ao me mostrar a beleza da natureza, nas pescarias, rios e cachoeiras. Amou ao me mostrar o cuidado com os animais, rindo de gargalhar dos bichinhos. E até chorando, emocionado só de vê-los brincando. Amou ao me dizer sem dizer. Amou ao ser reto, honesto, sincero e trabalhador. Amou ao dançar e darçarmos, sem vergonha. Amou ao respeitar o próximo. De tantas formas. Amou ao amar minha mãe, sua querida, sua filha. Era assim que se chamavam: filho e filha. Um amor raro, quando não há margem para romper. Amou quando me mostrou o esposo completamente dedicado que foi. Apaixonado. Mãos sempre dadas, ela era sua. Amou ao não fazer questão de nada, a não ser de ser generoso. Amou ao nunca reclam