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Mostrando postagens de março, 2023

Pai, avô e neto

Pai, avô e neto Quando meu pai faleceu , eu, meu filho Renan e meu marido Emerson já estávamos há dias na cidade dele. Já não estava bem. Naquele turbilhão todo que a morte faz, mesmo que calma, teve a perspectiva do Renan. Pelo menos tenho a minha versão disso. Foi interessante porque vínhamos de um ano difícil sobre o comportamento do nosso pequeno. Muito choro e indisposição sem explicações. Eis que ficamos 45 dias na casa dos meus pais e em todo o tempo, como um milagre, e acredito mesmo que seja, Renan ficou quieto, calmo como não contemplávamos há muito tempo. Eu me lembrava que tinha que conversar com ele sobre seu avô , mas deixava para depois, enquanto estava ocupada com uma coisa aqui e outra ali. E sabia que ele tudo ouvia e via. Participou de tudo. Eu estava devendo uma conversa. Até que após o falecimento , ele passou a demonstrar reações emocionais enquanto escutava conversas sobre o avô. Fazia beicinho e até chorou com lágrima silenciosa. Tem que explicar Eu então me

Mãe guerreira

 Mãe guerreira "Nossa Ludmila, vocé é uma mãe guerreira , viu?" Uma vizinha querida me disse essa frase enquanto aguardávamos o elevador.  Não foi a primeira vez que ouvi isso nos últimos onze anos, mas dessa vez parece que prestei mais atenção e percebi algo diferente. Já mencionei sobre essa expressão em alguns posts no Instagram, levantando a questão de frases feitas que podem  romantizar situações ou simplesmente serem termos que de nada valem. Não que me incomode ser chamada assim, longe disso. Geralmente percebo empatia  genuína pelo locutor.  Na verdade também tenho um pouco de ranço de regras demais em torno do que se pode falar hoje em dia. Até onde tem respeito , meus ouvidos e meu coração não se incomodam. Sobre romantizar Mas pra quem está aqui nessa  leitura , sobre romantizar, que também me parece verbo da moda, soa como camuflar um mundo que não é encantado.  Dizer que a mãe de uma criança com deficiência  é guerreira, é especial, é iluminada, é um ser melhor

Colorir e a vida adulta

Colorir e a vida adulta Há uns sete anos, lembro de deixar o livro de ilustrações com o lápis roxo na bancada da cozinha, enquanto tentava alimentar meu filho , com dificuldade (o que era rotina e estressante).  Recorria ao livro entre uma tentativa frustrada e outra, como quem deixa ali um pote de doce para aliviar a fome da tensão, enquanto não se pode parar o trabalho.  E eu me desconectava por alguns segundos, talvez minutos, colorindo mais uma pequena parte daquela página. E voltava ao trabalho. E coloria . E voltava ao trabalho. Quando começa O lúdico da infância e seu descompromisso com o perfeito deixaram esse gosto e apetite frescos na memória. Porém, até bem adulta , não colori mais. Apenas gostava muito. Sempre me lembrei da mesa de mogno bem preta em que estudava e coloria até lá pelos meus onze anos. Vagava por livrarias só pra sentir os aromas. Então, uma autorização para ser criança tinha surgido no mundo. Os livros de colorir para adultos viraram moda e fui