Confissão para Crisma
Qual pecado você confessou ao padre no preparo para a Crisma? Você se lembra? Eu me lembro.
Tinha meus quatorze anos de idade, uma menina alegre, bonita (minha mãe dizia), inteligente (ela também dizia) e levadinha para namorar.
Nessa época namorava há dois anos com um jovem rapaz.
Era sério, encontrávamos com frequência, tinha até aliança de compromisso. Oh céus!
Chegou o tempo de me crismar e parte do processo era fazer a primeira confissão a um padre.
Como fiquei nervosa! O que contaria? A verdade? Tinha que ser, porque afinal Deus já sabia dos meus pecados.
Meio da tarde, igreja vazia, horário marcado, lá estavam os olhos bondosos me aguardando.
Lembro ainda que ouvia somente o som que vinha dos meus passos.
Sentei sem graça.
"E então minha filha, o que tem para confessar?"
Primeiro pensei: caramba, mas assim? sentados nesse banco? olho no olho? cadê aquela cabine dos filmes?
Em segundos retomei a atenção e respondi: "traí meu namorado".
Ele meio que sorrindo, quis detalhar: "traiu? mas traiu como?"
Esfregando as mãos suadas e trêmulas, respondi: "beijei outro rapaz".
Aí que ele riu com vontade. E perguntou se pelo menos éramos noivos, e respondi que não.
"Ahh minha filha! Isso não é pecado! Reze dez ave-marias e dez pai-nossos e vá embora com Deus.
Eu era precoce, mas era certinha.
A alegria que senti ao ouvir que não era pecado! Nossa!
Rezei até ajoelhada pra valer mais.
Saí saltitante da igreja, com largo sorriso e me joguei nos braços do namorado que me esperava no carro.
Pensando bem, a euforia foi tanto pelo alívio de absolvição quanto pela cara de pau em saber que poderia fazer novamente.
Ah padre... que perigo!
Pois o amante tornou-se o marido de hoje, com suados vinte e sete anos de convivência.
Nem o padre sabia... era pecado sim.
Estou pagando direitinho.
Ludmila Barros 🔗 @ludmilapb
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